Saindo na Frente
- Sarah Américo
- 5 de dez. de 2017
- 5 min de leitura
Universitários de São Paulo estão adotando o intercâmbio para se destacarem na entrevista de emprego.

“O mercado de trabalho é um ambiente muito competitivo. A maioria das multinacionais agregam pessoas que já realizaram intercâmbio”. Essa é a observação do estudante Erik Leão. Porém não é só ele tem tem esse sentimento. Os atuais jovens da cidade de São Paulo enfrentam as mesmas dificuldade. É muito comum chegar a uma entrevista de emprego e se deparar com pessoas que já viveram em outros países e por isso traziam consigo um repertório mais complexo. Esse fato, que se tornou comum, faz com que a vontade de experimentar algo novo seja possível.
Diferente de muitas pessoas que cresceram com vontade de realizar um intercâmbio, Daniela Andrés de 23 anos, sentiu na pele a falta de uma experiência internacional. “O intercâmbio surgiu da necessidade de me atualizar para o trabalho. Precisava melhorar meu inglês e relacionamento com as pessoas”
Há dois meses na Austrália, relata que os moradores são muito acolhedores e veem os brasileiros como pessoas fortes. “A experiência está sendo ótima. Sidney é uma metrópole maravilhosa que reúne diversas culturas e modernidades. Tem semelhanças com São Paulo, mas aqui podemos ver que a educação e cultura são bem desenvolvidas e a população adere às leis e as respeitam”.
Em uma pesquisa realizada com estudantes universitários da cidade de São Paulo, a Austrália aparece como o quinto país mais procurado. As quatro primeiras posições ficam com Turquia, Estados Unidos, Tailândia e Espanha. De acordo com Lia Queiroz, funcionária da agência de viagem 2be Study, o maior desafio é encontrar o destino. “Quando o cliente chega até nós, há uma dúvida quanto ao melhor local para realizar a viagem. Para auxiliá-lo nessa decisão, colocamos na ponta do lápis os prós e contras como: clima, idioma, estilo de vida e moeda”.
Foi observando esses quesitos que Thirsiane Rossetto e o marido, Bruno Rossetto, decidiram ir para o Canadá em dezembro de 2016. O desejo da fisioterapeuta sempre foi Londres, porém essa opção não era viável no momento já que a libra estava mais cara que o dólar canadense. Os dois fizeram um intercâmbio estudantil e frequentaram durante um mês a Stafford House Toronto. “A gente sempre quis fazer intercâmbio, eu até tentei duas, mas ambas infelizmente não deram certo. Mas no ano passado finalmente a oportunidade veio. Meu marido começou a trabalhar na JBS e lá tem um plano de carreira, ou seja, é necessário fazer uma planilha das coisas que deseja realizar para crescer na empresa. Como um dos itens era o intercâmbio, nós finalmente conseguimos conciliar as férias e partir para essa aventura”.

Apesar de ter sido de curta duração, Thirsiane conta que a experiência foi incrível e que não vê a hora de realizar um novo. Como não tinham muito tempo para conhecer Toronto, o casal não quis alugar apartamento, então optaram por aprender vivendo em host family. “No início eu senti medo porque muitas pessoas relataram que não se deram bem com o host, mas comigo deu tudo certo. Digo que foi um encontro de almas porque eles me receberam de braços abertos e deram espaço para que eu fizesse o que queria. As únicas coisas que pediam era que eu avisasse se fosse chegar tarde ou não fosse comer em casa. Lá eles não jogam comida fora de maneira alguma”.
Mesmo tendo tido uma experiência incrível, Thirsiane não deixaria o Brasil para viver no Canadá. “As pessoas precisam parar de achar que os outros países são perfeitos, porque eles não são. Claro que tem muita coisa boa para nos espelharmos e fazermos igual, mas também tem muita coisa errada. Eu não deixaria o Brasil por eu amo meu país e aqui é o nosso lugar. Os brasileiros tem uma “vibe” diferente, as pessoas não são frias, nós damos aberturas para conversas e falamos com os vizinhos. Lá não, no tempo que fiquei, nunca vi um vizinho conversando com o outro”.
Quando o assunto é intercâmbio, o mais procurado é o estudantil, mas essa não é a única opção para melhorar o currículo e o próprio conceito sobre o mundo. A Aiesec (Association Internationale des Etudiants en Sciences Economiques et Commerciales) é uma associação que realiza intercâmbios voluntários, ou seja, quando você se inscreve, pode viver uma experiência profissional trabalhando em uma startup ou em alguma empresa, ou optar pelas ONG’s e auxiliar nos problemas que o país escolhido apresenta, além de conhecer de perto a verdadeira realidade.
Essa foi a experiência que Julia Ximenes escolheu. A estudante de publicidade e propagando aproveitou as férias da faculdade e foi para Mendonza na Argentina. “A Argentina sempre foi minha primeira opção. Eu quis fazer o intercâmbio voluntário porque era uma maneira de me conhecer e poder ajudar o país. Sabia que eles tinham problemas e quis vivenciar de perto o que passavam e apontar soluções, mesmo que básica como ensinar uma criança a fazer conta e incentivá-los a irem atrás do que querem”.
Julia, que é um membro da Aiesec, relata que esse não foi o primeiro contato com o diferente. A estudante relembra o trabalho voluntário realizado na ONG Sonhar Acordado. “Faço trabalho voluntário desde os 17 anos. Na ONG Sonhar Acordado eu trabalhava diretamente com as crianças, mas não era algo educacional. A gente transmitia valores, brincávamos e ouvíamos as histórias”.

Um dos desafios encontrados durante a viagem foi em relação ao idioma. Mesmo o espanhol sendo parecido com o português, muitas coisas são de difícil compreensão, e foi a falta de conhecimento que a prejudicou em um momento agoniante. “As pessoas foram super receptivas e compreensivas comigo, mas no meu terceiro dia eu passei mal. Como estava sozinha em casa precisei ligar para o seguro saúde. Por eu não falar espanhol tive que me virar bastante para explicar o que estava sentindo e solicitar alguém que falasse português. O método que utilizei para conseguir a comunicação, foi o google tradutor. Esse episódio auxiliou o meu desenvolvimento”.
Lígia Spezzia, Vice Presidente de uma das áreas de um escritório da Aiesec em São Paulo, está com viagem marcada para a Colômbia em janeiro de 2017. Com 25 anos, vai realizar o segundo intercâmbio, mas diferente do primeiro, esse vai ser voluntário. “Com o intercâmbio construímos empatia com outras culturas e conhecemos novos povos. Escolhi Bogotá porque é parecido com o Brasil e cidade de um escritor que admiro. Lá irei auxiliar pessoas que passaram por momentos difíceis e ajudar as crianças a construírem um plano de carreira”.
Entre os funcionários da associação, não é apenas Lígia que resolveu apostar em algo novo. Erik Leão, ex-presidente da área de host, vai para dois países diferentes no final do ano. É por meio dessa oportunidade que ele pretende melhorar o currículo. “A minha viagem é uma maneira de incrementar meu portfólio, mas acima de tudo impactar positivamente outras pessoas”.
O intercâmbio, além de ser um oportunidade única, também é uma experiência inesquecível em que há troca de cultura e contato com o diferente. Para quem é universitário, esse é um dos caminhos a percorrer para se diferenciar quando o assunto é: vaga de emprego.